quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CONSULTORIA - Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira

Agências de risco acumulam falhas, perdem credibilidade e levam sua parcela de culpa

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
23/10/08 - 11h17
InfoMoney

SÃO PAULO - A crise não abalou apenas a perspectiva para a economia global. Os mercados começaram a olhar diversas questões com outros olhos. Instituições antes inabaláveis mostram-se de joelhos e a credibilidade de outras passou a ser questionada. As agências de classificação de risco passaram de analistas a acusadas de parte na culpa pelo momento complicado dos mercados.


As avaliações de Moody's, Standard & Poors's e Fitch Ratings dão sinais de falhas significativas, e não apenas no episódio das hipotecas de alto risco. Na ocasião da quebra da gigante de energia norte-americana Enron, em 2001, o escândalo da manipulação dos balanços pela empresa já havia levantado suspeitas acerca dos ratings conferidos por estas agências.


Os sinais foram se acumulando e a credibilidade caindo. Com o estourar da atual crise no meio de 2007, as hipotecas de alto risco despontaram como ameaça à estabilidade econômica como um todo, mas nem por isso levaram a cortes significativos nos ratings de suas principais detentoras. Grande parte das financiadoras e companhias com grande exposição ao segmento ainda eram tidas entre as "AAA"s de Moody's e S&P.


Os reguladores do mercado internacional já manifestavam descontentamento com as avaliações das agências de risco. O Fórum Econômico Mundial de Davos deste ano colocou a tríade como alvo de duras críticas. Posteriormente, a União Européia clamou por medidas para limitar a atuação das classificadoras dos riscos. Angela Merkel chegou a sugerir a criação de uma agência européia de risco; um olhar alternativo ao do trio norte-americano.


"Uma história de erros colossais"

O avanço da crise foi devastando os mercados com a mesma força que derrubava as avaliações favoráveis das agências. As próprias reconheceram as falhas. Stephen Joynt, CEO (Chief Executive Officer) da Fitch, afirmou que "ficou claro que muitas opiniões não tiveram boa performance".


O reconhecimento do erro foi ao encontro de declarações pesadas de autoridades. Henry Waxman, do partido democrata norte-americano, afirmou que "a história das agências de risco é uma história de erros colossais".


Diante dos erros, os reguladores começaram a investigar a atuação das agências mais de perto e encontraram situações preocupantes. Interceptando a comunicação entre analistas da Standard & Poor's no meio deste ano, se depararam com uma frase em que diziam "vamos torcer para estarmos aposentados quando a casa vir abaixo".


Vendem a alma por remuneração

De falha, o mercado passou a associar as avaliações à "má fé". A quarta-feira (22) selou esta preocupação. Novamente interceptando uma comunicação via e-mail, agora entre empregados da Moody's, veio à tona a afirmação de que os ratings das agências de hipotecas os faziam parecer incompetentes, ou "vendem a alma por qualquer remuneração".


Uma conversa entre analistas da S&P também veio a público. Sobre um ativo lastreado em hipotecas analisado em maio de 2007, um empregado da agência iniciou a conversa citando que "a transação é ridícula", para qual outro funcionário afirmou que "o modelo empregado não captura nem metade dos riscos envolvidos". Com a resposta de que a melhor opção seria não dar uma classificação ao ativo, o mesmo funcionário afirmou que eles classificam qualquer transação, que pode ser estruturadas por 'vacas' e que, portanto, a agência iria classificar.


Os executivos já reconhecem erros e mostram-se abertos a buscar melhorarias em seus processos de análise. Mas após os últimos episódios, a necessidade do mercado é por transparência.


FONTE: http://web.infomoney.com.br//templates/news/view.asp?codigo=1411815&path=/investimentos/



Mercado procura os culpados, mas quem é o responsável pela devastação das bolsas?

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
24/10/08 - 21h30
InfoMoney

SÃO PAULO - É da natureza comum procurar culpados por qualquer situação de desconforto, e da natureza dos mercados também. A crise devasta as bolsas com o mesmo ímpeto que o investidor busca explicações para o insucesso de sua aplicação. Sem poderio frente ao tamanho da crise e na falta de respostas plausíveis, apenas buscam-se culpados.


A crise apareceu em agosto do ano passado, mas suas raízes parecem mais profundas. Estourou há um mês. Por ela desfilam nomes como Bernanke, Greenspan, Bush, Clinton, Fannie, Freddie, Morgan, Lehman, Paulson, entre tantos outros. São muitos os potenciais culpados.


Antes, todos queriam apontar, mas ninguém queria assumir o rótulo. Agora, resolveram dividi-lo. Tentando começar pela raiz, parâmetro nos Estados Unidos. Como tudo apareceu primeiro nas hipotecas, surge o primeiro indiciado. Como não perceberam que oferecer um "tsunami de crédito", poderia dar no que deu? Não perceberam ou não quiseram perceber?


Ironicamente, Bush parecia saber exatamente o que estava por vir quando assumiu. Trouxe para a cadeira do Federal Reserve senão o maior, um dos maiores especialistas do mundo em crises econômicas. Foi direto em Bernanke, indicação pessoal. Seu antecessor, Alan Greenspan, é tido como culpado por muitos. Sua parcela na culpa, assumida por ele mesmo, vem com a liberdade dada a mercados que mostraram, bem depois, não estarem maduros o suficiente para tê-la.


Não fica só nos Estados Unidos

Pois bem. Até aí, a culpa fica nos Estados Unidos, mas o mundo não condenou. A indisciplina da maior economia do mundo não comprometia; ainda mais, colaborava em boa parte dos ganhos, da demanda, da alta rentabilidade dos ativos, da liquidez proporcionada pelo investidor estrangeiro.


As rédeas frouxas que incluem Greenspan, Bush e até Clinton entre os culpados converteram-se em bolhas. Bolhas especulativas no mercado imobiliário e no mercado de commodities. A disparada do petróleo virou menor patamar de 16 meses, tudo em um intervalo de junho a outubro. A inversão da tendência remete à perspectiva de menor demanda, mas a rapidez da virada sugere capital especulativo.


Mercado todo na mira

As bolhas também incluem a raiz inicial do problema, o setor imobiliário norte-americano. Quem ignorou os riscos ao apostar nas hipotecas hoje paga caro por isso. As agências de classificação de risco, que deveriam apenas "não ignorar" este risco, falharam e reconheceram seu erro. Chegaram a relacionar casos de má fé, perderam credibilidade.


O investidor nãhttp://web.infomoney.com.br//templates/news/view.asp?codigo=1414587&path=/investimentos/#o fica de fora, óbvio. Comprou empresas, ou melhor, ações que nem sabia o ramo de atividade. Comprou ações, não empresas. Ignorou fundamentos, alterou seu planejamento inicial e, em alguns casos, foi contra seus próprios princípios. Olhou apenas potencial de valorização, nada além disso.


Não aponte

O mercado todo procura identificar os culpados pela crise, mas todo o mercado parece, de alguma forma, envolvido na trama. Como na célebre frase: "quando apontar com um dedo, se lembre que outros três dedos teus apontam para ti".



FONTE: http://web.infomoney.com.br//templates/news/view.asp?codigo=1414587&path=/investimentos/

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