sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Morre Rafael Melero Dias, com 22 anos, filho da minha prima Fátima

Jovem morre em acidente entre duas motos em Alvorada

Motociclistas eram amigos e estavam voltando de uma festa

Um jovem morreu morreu e outro ficou ferido em acidente envolvendo duas motocicletas no fim da madrugada desta sexta-feira, em Alvorada, região Metropolitana de Porto Alegre. A colisão ocorreu na avenida Tiradentes, no acesso ao Jardim Algarve. Os dois motociclistas eram amigos e estavam voltando de uma festa. A polícia investiga excesso de velocidade ou possível disputa de um racha.

Rafael Melero Dias, 22 anos, que trabalhava em um locadora de automóveis, morreu na hora. Felipe Caetano de Araújo, 19 anos, ficou ferido e foi levado para o Hospital de Alvorada.

Rafael era filho da Fátima, neto do Tio Dante, irmão do meu Pai (Mario Melero), bisneto de VICENTE MELERO & ADÃO DE OLIVEIRA.

Fonte: Rádio Guaíba

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30 Out 2009 ... 30/10/2009 09:04 - Atualizado em 30/10/2009 09:05. Jovem morre em acidente entre duas motos em Alvorada ... Rafael Melero Dias, 22 anos, que trabalhava em um locadora de automóveis, ... 08:43 > Homem mata a mulher, atira contra si e sobrevive ... 2 > Morador de Caçapava do Sul constrói túmulo de . ...

FONTE: http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=49517

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

FELIZ DIA DOS PROFESSORES




15 DE OUTUBRO: DIA DO PROFESSOR NO BRASIL


No Brasil, o Dia do Professor é comemorado todo 15 de outubro. Mas você sabe a origem do Dia do Professor?

No dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Teresa d' Ávila), Dom Pedro I, Imperador do Brasil, baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, era imperativo que "todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras". Ele ainda determinava a descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. A ideia era inovadora e revolucionária para a época.

Foi somente em 1947, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra - portanto, 120 anos após o referido decreto do Primeiro Império -, que ocorreu a primeira comemoração do Dia do Professor.

A data começou a ser comemorada em São Paulo, em uma pequena escola no centro da cidade, onde existia o Ginásio Caetano de Campos. O longo período letivo do segundo semestre ia de 1º de junho a 15 de dezembro, com apenas dez dias de férias em todos esses meses. Foi então que quatro professores tiveram a ideia de organizar um dia de parada para se evitar o estresse - e também de congraçamento e reflexão para o restante do ano.

O professor Salomão Becker sugeriu que o encontro se desse no dia de 15 de outubro, data em que, na sua cidade natal, Piracicaba, professores e alunos traziam doces de casa para uma pequena confraternização entre eles. A sugestão foi aceita e a comemoração teve presença maciça. O discurso do professor Becker, além de ratificar a ideia de se manter na data um encontro anual, ficou famoso pela frase: "Professor é profissão. Educador é missão".

A partir dessa data, comemora-se o Dia do Professor no Brasil em todo 15 de outubro.

FONTE: http://www.jornaldeuberaba.com.br/?MENU=CadernoA&SUBMENU=Opiniao&CODIGO=33141


Sou muito grato a todos que passaram pela minha vida a fora!-15/10/2009-23:55h"

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Tião Rocha - Em Araçuaí, cada um ensina o que faz melhor!

O QUE É A SABEDORIA DE UM HOMEM

Para educar um menino é preciso toda uma aldeia. Tião Rocha aprendeu isso numa viagem a Moçambique, na África, e trouxe a lição para o Brasil. Foi com o apoio das comunidades de Araçuaí, em Minas Gerais, que ele começou um trabalho de educação na zona rural, usando os talentos e a sabedoria do povo da roça.

A ponte sobre o rio pode deixar inseguro quem chega pela primeira vez na comunidade São João Setúbal, mas o menino sabido passa por ela montado na bicicleta, sem cair, nem titubear.

Na casa da Dona Marisete, a brincadeira já começou. A escola fica debaixo da mangueira e o que parece uma aula de culinária é aula de alfabetização.


“A erva doce para dar um gostinho melhor, um cheiro”, diz.

‘Em 2004, em Araçuaí, 96,7% das crianças que tinham estudado até a 8ª série estavam numa situação chamada insuficiente. Criamos um pequeno exército de mães educadoras, agentes comunitárias de educação, que tinham que usar o que sabiam para salvar do analfabetismo cada criança. Então, uma senhora falou: ‘A única coisa que eu sei fazer é biscoito. Os meninos podem aprender fazendo isso?’ E eu falei: ‘Podem, aprendem fácil’. Na hora em que eu estava terminando a conversa, eu lembrei de perguntar o nome e ela disse: ‘O nome é biscoito escrevido’ e eu respondi: ‘Se o nome já é esse, a gente pode escrever qualquer coisa’”, conta Tião.

A aula de biscoito “escrevido” faz sucesso. A mãe educadora prepara a massa, que fica logo pronta. Depois, o trabalho é com a criançada. Com a massa, cada um pode escrever o que quiser: uma letra, um número, o próprio nome.

“A gente escreve com o biscoito e a letra da gente vai ficando mais bonita”, conta Angélica Moreira Câmara, de dez anos.

Angélica leva a forma para o forno, de onde não param de sair nomes e letras.

“Criança que não sabia nem o alfabeto aprendeu facinho. Eles ficam alegres de fazer através do biscoito que eles vão comer. Eles aprendem e dá para sentir que vai encher a barriguinha também”, diz a voluntária Hilda Aparecida Soares Nunes.

A barriguinha, pelo jeito, enche bastante. Luana já comeu quase todo o nome dela.

“Estão faltando as letras L, N e A. O L era o que estava mais gostoso”, diz.

A alegria que se vê no rosto das crianças é espelho do entusiasmo das mães cuidadoras. Mulheres da comunidade que ao abrirem espaço nas suas vidas pra ajudar na formação das crianças acabaram virando mães de todos, mães coletivas.

Uma das mães conversa com as crianças: “Quem gostou da historinha? Qual o nome da bezerrinha?” Essa é a roda da contação de histórias. Faz parte do projeto Sementinha, no qual se trabalha com as crianças de quatro a seis anos.

“A melhor coisa que tem é trabalhar com crianças. A gente chega em casa em paz, com a consciência mais leve. É muito bom”, diz Virlene Gomes Coelho.

“Eu tenho uma alegria danada. Eu sinto falta, porque minha mãe não contava e agora eu posso pegar um livro, sei ler, graças a Deus, e posso contar para as crianças e para os meus filhos. Eu tenho quatro filhos”, diz Valdenice Maria Alves.

A capacidade de leitura de Valdenice não ficou só para ela e seus filhos. É assim que funciona, as sabedorias individuais são valorizadas e repassadas pra comunidade.


A moradora de uma casa verde faz biofertilizante.

Na casa branca, tem uma especialista em xarope para tosse.

E a dona de outra casa faz uma ótima farinha láctea.


Mas nenhuma delas sequer conhecia o talento uma da outra. É por isso que foram criadas as oficinas comunitárias, para a troca de experiências.

Na aula de sabão caseiro, as mulheres se divertem enquanto aprendem. “A gente economiza, usa as ervas que encontramos no quintal, não compramos nada”, conta uma delas.

Bastou um impulso, uma regra para as ideias florescerem. No sertão é assim.


A SECA

Durante oito, nove meses no ano, a vegetação fica assim: das árvores resta apenas o esqueleto e parece até que está tudo morto. Porém, nas primeiras chuvas, tudo vai voltar a ficar verde.

Enquanto isso não acontece, é o cinza que domina a paisagem. O verde fica só nas margens dos rios. Na beira do Jequitinhonha, Tião se refresca e fala sobre o projeto Caminho das Águas.

“Nós tínhamos o projeto de construir uma cidade educativa. Aí pensamos mais amplo: vamos construir uma cidade sustentável. Nós queríamos fazer o caminho das águas, não perder uma gota de água. Recuperar as nascentes, os rios, cuidar das matas ciliares e, também, captar o máximo que pudéssemos da água da chuva”, conta Tião.

Então, fomos ao encontro das águas do vale. Na comunidade Alfredo Graça fica o rio Gravatá. De um lado, um grupo planta mudas para recuperar a mata ciliar, do outro, sítios com a cerca quase dentro da água, aproveitando a terra ao máximo.

“As pessoas precisam acreditar que algumas atitudes, junto com as queimadas, estão prejudicando essa água que garante a sobrevivência delas. A gente está aqui para contribuir com essa comunidade, para que esse rio não seque”, diz Eliane Oliveira, coordenadora do projeto Araçuaí Sustentável. Hoje, ela acompanha o grupo em mais um trabalho.

Unidas, as pessoas compraram uma terrinha e, agora, fazem no morro valas de infiltração, terraços construídos em curvas de nível para retenção de água da chuva.

“Eles nunca tinham ouvido falar nisso e acharam que a gente era um bando de loucos, de vir para o morro, que para eles era uma terra morta. Depois, a gente fez a primeira experiência. Fizemos os canais e na hora que deu a primeira chuva, verteu aquela água. Quando eles viram aquela água, viram que isso é possível de dar certo”, conta Eliane.

Hoje, as valas já estão todas prontas e o pessoal coloca matéria orgânica.

“São 21 famílias, cada uma vai ocupar uma vala e cada uma sabe o que vai plantar em cada vala”, diz a agricultora Maria Emília Alves.


RELATOS

O agricultor Ronaldo de Souza, 32 anos, já saiu do Jequitinhonha muitas vezes pra tentar a vida fora. Foi sozinho, deixando pra trás a mulher, com quem teve quatro filhos. No corte da cana, ganhou uma cicatriz profunda.

“Quando as duas meninas nasceram, eu não estava aqui. Eu cheguei, fiquei quatro meses e voltei para o corte de cana. Quando eu voltei, eu falei que era o pai dela, ela correu de mim, porque não me reconheceu. Então, isso para mim eu nunca esqueci. Eu nunca falei isso pra ninguém”, conta.

As crianças hoje estão maiorzinhas. Natanael tem nove anos, Ismael, seis, Carolina, quatro, e Karine, três. Ronaldo se agarra na esperança de mudança e na filha que o faz querer mudar.

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Um exemplo de sustentabilidade


Todo ano, milhares de homens deixam o Jequitinhonha para cortar cana no centro-sul do Brasil. Só de Araçuaí (MG), cerca de 8 mil pessoas deixam suas casas em busca de trabalho: quase 1/4 da população.

Na última parte da nossa reportagem, acompanhamos o trabalho do Centro de Cultura Popular e Desenvolvimento (CPCD) para criar uma alternativa de renda na região: a produção de alimentos sem agredir o meio ambiente.

O agricultor Celso Silva já foi cortador de cana. Hoje, tem uma vida totalmente diferente. Ele é o responsável pelo Sítio Maravilha, uma área que funciona como modelo de cultivo sustentável no sistema de permacultura.

“Permacultura é uma cultura permanente. A primeira coisa que eu aprendi foi respeitar a natureza, por saber que ela faz parte da nossa vida e que nós não conseguimos viver sem ela”, diz.

Lá, a horta mais parece um jardim. Todos os canteiros são feitos em formato circular, no sistema de mandala.

“A primeira vantagem do canteiro mandala é que, quando você faz o círculo, você está causando um microclima. Você não tem toda a força do vento, você diminui a questão da evaporação da umidade, diminui a luminosidade do sol. Então, fica um pequeno ambiente mais frio, por exemplo. A terra mudou bastante. Antes, ela era compactada e, hoje, você pode ver que é uma terra totalmente fértil. Eu sinto que é um pedaço de mim, eu sou parte desse solo”, conta o agricultor.

Além de hortaliças, o sítio também produz mudas de árvores nativas que vão arborizar o sítio e as comunidades rurais.


MUDANÇA DE HÁBITO

Uma novidade no Sítio Maravilha é o banheiro compostável. A pessoa entra, senta no trono e, na hora de dar a descarga, cadê? A descarga é diferente. É um punhado de serragem que deve ser jogado por cima dos dejetos. Tudo vai ficar depositado atrás do banheiro, em um tambor. Quando ele estiver bem cheio, é retirado, tampado e deixado seis meses sob o sol.

“Se você usar direitinho, não vai dar mau cheiro. Isso vai ser juntado a outros materiais, por exemplo, esterco de vacas dos currais, bagaço de cana de açúcar, para formar, de fato, o composto. Ele é usado nos pomares, por exemplo, de feijão, milho. Não deve ser usado diretamente nas hortaliças, porque ainda ficam adubos velhos”, explica Celso.

O banheiro, as mandalas. É tudo sabedoria que ajuda o sertanejo a conviver com sua maior dificuldade: a falta de água.

“Aqui no semi-árido, uma casa sustentável tem que ter um quite de sustentabilidade. Um banheiro de compostagem, hortas de mandala que façam o máximo de aproveitamento da água, o máximo da produção, e a captação da água de chuva”, diz Tião Rocha.

Para difundir a ideia das casas sustentáveis, Celso, o cuidador do Sítio Maravilha, percorre as comunidades dando aulas.


EDUCAÇÃO

“Primeira regra da permacultura: cuidado com a terra”, ensina. Ele repassa tudo o que aprendeu e vai formando um pelotão de permacultores.

Brincadeiras relaxam o ambiente para as discussões importantes que estão por vir.
Todas as mulheres são moradoras da zona rural e, há algum tempo, se tornaram mães cuidadoras da água.

“A mãe cuidadora da água é uma líder que está na frente, cuidando dos objetivos do meio ambiente”, diz Vanessa Souza Ramos.


Existem 35 mulheres cuidadoras espalhadas e cinco homens com o papel de guardiões das águas espalhados por 18 comunidades.


Cada um recebe uma bolsa de R$150 e ajuda a tocar as atividades do CPCD nos povoados. Ao se tornarem agentes dessa transformação essas pessoas sem querer, acabaram também se transformando.

“Antes, a gente não tinha esse conhecimento de como trabalhar com a terra dentro das técnicas da permacultura. É um trabalho que a gente faz sem agredir a natureza, isso é muito lindo. Além disso, a gente aprendeu a conviver mais com os amigos e com a comunidade, a escutar mais as pessoas, porque muitas vezes a gente só fala e não escuta as pessoas”, diz Edna Ramalho Pinheiro.

“É um trabalho muito bom, principalmente depois que a minha casa foi escolhida para ser o Quintal Maravilha. Mais maravilha eu fiquei”, conta Maria de Fátima Borges dos Santos.

Dona Maria de Fátima nos levou até sua casa, recém pintada com tinta de terra. No Quintal Maravilha, foram aplicadas as tecnologias do Sítio Maravilha, em menor escala. Não esqueça que estamos em época de seca e, mesmo assim, o quintal continua verdinho.
Dona Fatinha explica a espiral de ervas, que garante o chazinho na hora da precisão.

“As plantas que a gente planta aqui em cima, não gostam de muita água. Aquelas que gostam, a gente planta em baixo, porque é onde fica mais molhado”, explica.

Depois dos cursos que fez, dona Fatinha não descuida do minhocário.

“Para mim, minhoca não tinha serventia nenhuma. Hoje, na hora em que eu vejo uma, eu quero cuidar dela”, diz.

Ela também aprendeu a fazer o biofertilizante, que, lá, é chamado de vitamina para as plantas.

“Depois de seis semanas a gente côa e já está pronto para por nas plantas. Melhora, as plantas ficam mais coloridas, mais verdes”, diz.

O marido de dona Fatinha, Petrolino dos Santos, ajuda na manutenção das mandalas. Ele cortou cana durante 28o anos. Deixou o trabalho quando adoeceu, mas o destino dos meninos do Jequitinhonha já alcançou dois dos seus dez filhos.

“Tem dois meninos meus que trabalham lá: o mais velho e o quinto. Se ficarem aqui durante a seca, eles não ganham nada também. Então, eles preferem ir para lá para ganhar um trocado”, conta.

Dona Fatinha e seu Petrolino trabalham duro e se orgulham de mostrar o resultado do seu suor. Sábado, dia de feira, lá está dona Fatinha com seu produto.

“Já vendi quase tudo, só tem esse pouquinho aqui”, mostra.

Enquanto ela termina suas vendas, vamos a outra comunidade: Palmital. No dia de mutirão para construção de cisternas, as mulheres trazem a água e os homens preparam a massa.


O pedreiro Darci Bonfim conta que já levantou 12 caixas na comunidade.

“Na última casa que eu fiz, a família até comentou: ‘Olha, se tivessem fogos aqui eu até ia soltar uma caixa de fogos’. Então, foi uma felicidade tremenda”, conta.

Maria José da Silva é uma mãe cuidadora das águas. Ela já teve uma cisterna construída em sua casa e agora trabalha na casa da vizinha.

“A minha terminou e eu vim ajudar a amiga que estava me ajudando. Tem sempre essa troca, sempre um ajudando o outro”, diz.

Na casa da dona Maria José, um capricho. As garrafas pet, que antes eram jogadas fora, foram cheias de tinta colorida e enfeitam todo o caminho de entrada. Lá vão mesmo muitos visitantes, porque logo na porta fica exposta uma algibeira de livros. Quem quiser basta dar uma passadinha e levar um emprestado.

“Assim que nós chegamos com as algibeiras, sempre apareceram pessoas. Vinham aqui na minha casa, olhava e falavam: ‘Comadre, que bom, eu queria ler este livro’. E eu dizia: ‘Pode levar’”, conta.

Nos fundos da casa, dona Maria José mostra sua cisterna novinha e a horta em forma de mandala.

“Daqui, eu já tirei feijão, verduras, eu não compro mais verduras. Quando eu chego às vendas, vejo aquelas verduras bonitas e nem tenho vontade de comprar, porque são cheias de química e as minhas não são”, conta.

O marido dela, seu Osmar, está em São Paulo no corte da cana, mas já chegou a ver a horta verdinha e se encantou.

“Que maravilha que está nosso terreno. Vocês tiveram força de vontade, porque está muito bonito o quintal”, diz.

Dona Maria José nos mostra o resultado da colheita: feijão, andu, alho, mamão e a mamona, com a qual ela faz a pituba.

“Desde que eu namorava meu marido, ele ia lá pra casa passear no final de semana e não tinha querosene e a gente não tinha condições de comprar. Então minha mãe falava: o seu namorado vem? Então você vai para o pilão socar mamona para fazer pituba. Eu já tenho 17 anos de casada e todo ano meu marido vai cortar cana”, diz, emocionada.

Dona Maria criou os três filhos praticamente sozinha. Daniel, de 14 anos, Vinícius, de 13, e Ismael, de dez. Para eles, a distância do pai já virou rotina.

“Eu só fico triste, mas não choro. Se chorar não vai resolver nada”, diz um deles. Ismael diz que não fica com saudades quando o pai vai embora, porque já se acostumou com a distância.

No posto telefônico, várias mulheres esperam pela ligação dos maridos ou filhos. Foi com famílias assim que Tião Rocha decidiu trabalhar. Com o grande desafio de mantê-las unidas, de trazer de volta seus homens que saíram por pura necessidade.

“Eu voto para os meus filhos não saírem, para não sofrerem como o pai deles sofrem. O meu lugar é aqui, daqui eu não tenho vontade de sair mais não”, diz Maria José.

“Eu não quero ir para lugar nenhum. Eu quero ficar aqui e vou ficar”, diz Ronaldo.

Em quase toda casa do Jequitinhonha, existe uma história de ausência, de carência, mas também existe um ponto luminoso. Assim, se formou no vale uma constelação, um feixe de luz cada vez mais visível.

“Eu falo que nós vivemos, nós humanos, para cumprir quatro coisas: para ser educado, para ser livre, para ser feliz e para ter saúde. Você só precisa ter saúde, o resto precisa ser. Esse é o grande samba-enredo. O resto é alegoria e adereço”, diz Tião Rocha.


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EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

Uma sala de aula à sombra de cada árvore


Você já imaginou se, à sombra de cada árvore, existisse uma sala de aula? Pois esse é o sonho do educador Tião Rocha, personagem de uma história que o Globo Rural foi conferir.

Há muitos anos, Tião se perguntou se era possível criar uma escola ao ar livre, debaixo de uma mangueira. A apresentadora Helen Martins foi conhecer a resposta dessa dúvida em Minas Gerais, junto com o repórter cinematográfico Jorge dos Santos.

Noite de cinema na roça. Na tela: Tapete Vermelho, a história de uma família que sai de casa na zona rural com um sonho, ir à cidade ver um filme de Mazzaropi. Achar um cinema não foi nada fácil.

Em outro pequeno povoado, o cinema é no meio da rua, de graça e tem até pipoca. Essa é uma das novidades que se escondem nas pregas das montanhas do Vale do Jequitinhonha. É lá que fica Araçuaí, município que tem escola espalhada por todo canto, graças ao educador Tião Rocha.

“Qualquer lugar propício para criar um ambiente de aprendizagem, pode ser um espaço escolar, pode ser uma escola. Essa é a pergunta que eu me fiz 25 anos atrás, se era possível fazer educação sem escola ou se era possível fazer uma boa escola debaixo de um pé de manga”, diz.

Com a única certeza da escola que não queria criar, Tião buscou ajuda e formou rodas para discutira a ideia com os moradores da comunidade. Assim, o sonho de Tião virou o sonho de muitos: criar uma sala de aula embaixo de cada mangueira da zona rural. Aos poucos, a escola ao ar livre se transformou em realidade.

“Em uma reunião da comunidade, uma senhora disse: ‘Tião, essa escola é diferente da outra, porque essa a gente vê. A outra a gente vê o muro e o dia em que eu entro lá é quando não tem aula. Eu nunca vi meu menino aprendendo’. A comadre dela comentou: ‘É mesmo, ontem essa escola passou na minha porta três vezes’. Não é um bando de meninos que andam, é uma escola que anda”, conta.

Hoje, Tião tem um espaço dentro do maior colégio particular de Araçuaí, o Nazaré: é o projeto Ser Criança. Lá, tem roda pra todo lado. Tem roda de cantoria, roda para fazer boneca de pano, para pintar cartões com tintas tiradas da natureza.

Durante nossa visita, Tião rodou pra lá e pra cá, sempre se encantando com as crianças.

“É uma alegria, isso alimenta”, diz.

Todas essas crianças frequentam o ensino tradicional e, no outro período do dia, vão ao projeto para brincar. Brincar e aprender.

Jogo de damas muita gente conhece, mas o dessa escola é diferente: é misturado com a matemática. É a damática.

“Por exemplo, tem o 3+3. Se você errar, você não pode comer a pecinha”, conta a aluna Tamires Fernandes Oliveira.

“Eu acho que pelo fato de ela estar na 6ª série, em uma fase mais avançada que a minha, ela pode até ganhar de mim, mas nós temos a mesma capacidade no jogo”, diz Lucas Viana, adversário de Tamires na damática.

“Eu acho esta escola bem melhor, na outra a gente aprende o essencial. Aqui a gente aprende o essencial e mais”, diz Lucas.

No início do projeto Ser Criança, nem o essencial era aprendido na escola tradicional. Tião conta que o índice de reprovação era de 100%. Do desafio de melhorar a aprendizagem sem fazer reforço escolar, surgiu a damática.

“Havia uma garoto chamado Denisson, de 11 anos, que não sabia nada das quatro operações. Ele não sabia fazer contas, mas sabia jogar damas. Um dia, eu peguei um tabuleiro, enchemos com números, de forma aleatória, colocamos sinais de mais e de menos e colocamos uma regra: só pode jogar e fazer dama quem fizer uma conta. Em um instantinho, não sei o que aconteceu na cabeça do Denisson que ele aprendeu a fazer as contas e continuou jogando damas e ganhando”, conta Tião.

Vieram muitos outros jogos. No bornal, estão reunidos aqueles já avaliados nas escolas formais e aprovados.

Nós temos, hoje, 80 jogos dentro do bornal. Jogos de português, matemática, história, ciências, geografia. Isso aqui virou um cassino, é uma jogatina danada. E todas têm um valor, o valor do aprendizado”, diz o educador.

Aos 15 anos, os jovens, sem trocadilho, têm que deixar o Ser Criança. Como não querem parar de aprender, criaram uma cooperativa que faz artesanato em madeira, metal, materiais recicláveis. A brincadeira é desenvolver novos produtos e, ao mesmo tempo, garantir um salário.

Renda é assunto sério no Vale do Jequitinhonha, uma região com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia renda, educação e expectativa de vida, abaixo da média mineira e nacional.

O Jequitinhonha sempre foi conhecido como o vale da miséria, o vale da pobreza, mas quando o educador Tião Rocha chegou à região, há cerca de dez anos, ele levou uma ideia diferente: procurar por pontos luminosos. Pessoas que, com sua sabedoria e sua força de vontade, pudessem contribuir para modificar a comunidade.

“O IDH mede o lado vazio do copo, mede as carências. Não interessa olhar a carência. Isso já foi medido, estudado, analisado. Está cheio de coisa olhando para o lado vazio, o lado obscuro. Eu quero mexer com o lado cheio do copo. Eu quero entender o IPDH: o Índice de Potencial de Desenvolvimento Humano, que é a capacidade que as pessoas têm de acolhimento, de convivência, de aprendizagem e de oportunidade. A gente tem que ter a capacidade de só olhar pelo lado luminoso, para ver o brilho das pessoas. Se você junta um monte de pontos luminosos, você faz um feixe de luz, um holofote, sai energia, sai calor, sai transformação”, diz.


QUEM É TIÃO ROCHA

Para conhecer melhor Tião Rocha, nós fomos até Belo Horizonte. É na capital mineira que fica uma Organização Não Governamental (ONG) fundada por ele, o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), com sede na casa onde Tião nasceu e cresceu.

Uma foto que mostra o Tião ainda menino, parece ter sido tirada na roça.

“A minha casa era muito grande, um terreno enorme. Aqui a gente plantava café, milho, tinha muita fruta. Os meus pais saíram da roça, mas a roça não saiu deles”, diz.

Tião se formou em antropologia e foi professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Há quase 30 anos, deixou o cargo e criou o CPCD.

“Nos primeiros dez anos do CPCD, todos os nossos recursos vinham de fora do Brasil, de instituições e fundações internacionais. Depois de 95, quando nós começamos a ser reconhecidos pelos prêmios, a gente começou a ter a visibilidade nacional e vários parceiros nacionais”, conta.

A inspiração para o trabalho de uma vida começou na escola, com um trauma no primeiro dia de estudante.

“Nós fomos recebidos pela professora, que nos levou para uma sala de leitura bem no fundo da escola, abriu um livro e começou a ler: ‘Era uma vez, num país muito distante, havia um rei e uma rainha’. Eu levantei a mão e falei: ‘Professora, eu tenho uma tia que é rainha’. Ela falou: ‘Fica quieto menino, isso é história da carochinha, isso não existe”. E era verdade, eu tinha uma tia que era rainha de verdade, a tia gorda, Rainha Perpétua do Congado. Não era de mentirinha, não era história da carochinha. Esse processo traumático também me ajudou a buscar não outra escola, mas outras tias rainhas, outras rainhas de outros meninos, de outras dinastias”, conta.

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Tião Rocha

Educador popular, antropólogo e folclorista, Tião Rocha fundou o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) por indignação e teimosia. Essa ONG foi parida em 1984, em Belo Horizonte, em meio à miséria, à dor, ao abandono e à esperança. Na ocasião, Rocha começou se perguntando se era possível fazer educação embaixo de pé de manga. Não só foi possível como ele e sua equipe transformaram cafuné, abraço e sabão em pedagogia e políticas públicas. Os projetos do CPCD estão em mais de 20 cidades brasileiras e em três países (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau). “Aprendi em Moçambique que para educar uma criança é preciso toda uma aldeia. Se a comunidade assumir a responsabilidade por suas crianças, não vai haver mais criança analfabeta neste país. Isso não é uma política de governo, nem de Terceiro Setor, é uma questão ética. E como se mobiliza a aldeia? Juntando o que as pessoas têm de melhor e disponibilizando”, diz Rocha.


Como unir simplicidade e modernidade na escola?


Como você diferencia educação de escolarização?

Escola é meio. Educação é fim. Há escolas muito bem equipadas que têm uma educação medíocre do ponto de vista da formação dos seres humanos. A gente observa, nos grandes centros, escolas bem montadas, mas que parecem uma cadeia, cercadas de grades, cheias de câmeras para policiar. Comprovamos há 25 anos que é possível fazer educação de boa qualidade debaixo de pé de manga, recuperando o sentido da educação como prática humana. Trabalho no interior de Minas Gerais, onde as pessoas vivem em condições subumanas e aonde a tecnologia ainda não chegou. O fato de passar um canal lá de televisão não significa que houve mudanças efetivas. Houve informação, mas não transformação em conhecimento.


Vocês usam a pedagogia da roda. Como ela funciona?

A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva. Na roda você constrói consensos. Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar. Nos seus projetos também foi adotada a pedagogia do brinquedo. De que se trata?A pedagogia do brinquedo veio responder a uma pergunta: será possível ter uma escola formal boa e prazerosa? Será que os meninos podem aprender brincando, ou a escola tem que ser um serviço militar aos 7 anos? É a idéia de transformar o brinquedo em instrumento de aprendizagem. Percebemos que eles podem aprender tudo, desde se alfabetizar até história, física, química, matemática, e também cidadania, ética, solidariedade, sexualidade.


De que forma esse processo pode ser multiplicado?

Foi em cima disso que comecei a trabalhar com meninos de 7 a 14 anos. Todo início de ano, faço com eles uma aposta de que tudo que vou fazer vai ser na base do brinquedo, da brincadeira. Há 20 e tantos anos, um garoto chegou para mim e disse: “Ah, legal, mas cadê os brinquedos?” Eu falei: “É verdade, não tem nenhum. Mas vamos fazer uma aposta? No dia em que não soubermos mais inventar os próprios brinquedos eu começo a comprar. Topa?” E toparam. Claro que ganhei. Isso é a pedagogia do sabão: aproveitar os recursos que tem e transformar em utilidade econômica, social, doméstica e também pedagógica. Com isso, você vai gerando uma série de processos. São exercícios de aprendizagem.


Você fala em pedagogia do abraço. Como funciona?

A pedagogia do abraço é uma forma de trabalhar com grupos marginalizados, não por carências nem pelo IDH, mas pelas potencialidades. Trabalhamos com o IPDH: Índice de Potencial de Desenvolvimento Humano. Começamos a falar em cafuné pedagógico. Só sabe que é bom cafuné aquele que já o recebeu uma vez na vida. Então tivemos que fazer cafuné pedagógico, que é possibilitar que o outro invista no lado luminoso dele, capaz de surpreender e de gerar. Isso também começou em uma brincadeira com meninos na periferia. A minha brincadeira era dizer: só vou dar um abraço apertado, daqueles de quebrar costela, se você estiver com o cabelo penteado, ou de batom, cheirosa. Senão, comigo vai ser distância, na ponta do dedinho. Um jogo. Só que isso fez com que a meninada levasse a sério. Nós percebemos na comunidade e na escola a demanda dessas pessoas que querem ser cuidadas, que querem se gostar. Percebemos que o afeto, o abraço, o cafuné pedagógico favoreciam as pessoas a sentir mais orgulho de si. E as ajudavam a sair da linha de baixo, do desprezo, para a de cima, da auto-estima.


É difícil convencer os governos a investir nesses projetos?

É difícil demais. Imagine que a maioria dos órgãos públicos trabalha com rubricas financeiras e não em cima de plataformas, bandeiras e causas. A educação é transformada em números. A escola, que foi o aparelho ideológico do estado na época da ditadura, virou aparelho ideológico do mercado. Você tem que formar gente para atender à demanda do mercado. Há escolas em que o importante é formar, empurrar para a frente, não importa o tanto de alunos que deixou para trás. Isso retira o poder de pessoas. São jogos políticos, não de solidariedade. O grande problema da escola atual é que é cômodo ficar dentro de uma forma que existe há 500 anos. Ela ainda trabalha com conteúdos absolutamente equivocados. Os meninos têm que passar por sessões de tortura, com informações sem a mínima importância. Perde-se um tempo danado. Educação só acontece no plural, porque estão envolvidas, no mínimo, duas pessoas. Se houver uma máquina no meio, qualquer que seja, como um computador, que favoreça, tudo bem. Mas, se isso tiver o caráter de substituir pessoas, pode até ter aprendizagem, mas falar que há educação é outra história. A sofisticação se dá na relação entre as pessoas: você senta numa roda e estabelece entre elas processos de troca. É uma relação de construção. Livros, cadernos e equipamentos têm que entrar para se somar a esse projeto de pessoas. Se houver isso, ótimo, ajuda. Se não houver, não significa que se vai deixar de fazer.

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http://www.cpcd.org.br/extras/Links/conteudo_399672.shtml

GLOBO RURAL DE DOMINGO DIA 11/10/2009.

FONTE: http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-337510-1,00.html

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http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-337512-1,00.html

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http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-337509-1,00.html